O que é uma criança “difícil” para você?
Tendemos a considerar uma criança como um ser humano “difícil” de lidar, todas as vezes em que ela não corresponde a nossa expectativa de ser e fazer as coisas de forma “adequada”. Quando uma criança, por exemplo, não obedece à solicitação ou pedido dos pais, ou quando se comunica de modo grosseiro ou deixa de se comunicar diante de uma tentativa de diálogo, quando se comporta de forma inapropriada ao contexto ou até mesmo quando emite comportamentos agressivos com as pessoas ao seu redor, costumamos dizer que ela é uma criança difícil.
A grande questão é que vez ou outra, toda criança irá se expressar de modo “difícil” ou diferente das expectativas dos pais, assim como irá ter momentos de inadequação em relação ao seu ambiente, pois a infância é uma fase de intensa experimentação, assim como de construção da personalidade, aprendizagem das regras sociais e discriminação do que é ou não “certo”. No entanto, quando uma criança apresenta um padrão de comportamento “difícil”, significa que esses comportamentos inadequados representam a maior parte de suas atitudes, gerando prejuízos em diversas esferas da vida, mas especialmente, na relação com os pais e responsáveis, professores e amigos na fase escolar.
Muitos pais com filhos “difíceis” sentem-se culpados, como se tivessem falhado na educação de suas crianças. Mas uma coisa que é pouco falada e compreendida pelo senso comum, é que embora a educação dos pais seja um fator essencial na forma de se expressar de seus filhos, a forma com a criança sente e percebe o mundo, também impacta na maneira como ela irá externalizar suas emoções.
Desta forma, considerar que por de trás de todo comportamento há uma emoção e uma função, pode ser uma maneira de compreender o universo da criança e se comunicar com ela de modo que gere conexão e sentido, pois só assim é possível haver mudança de comportamento. Diante de um comportamento inadequado dos filhos, é muito comum os pais tentarem repreender imediatamente, de forma punitiva, que faça a criança sentir-se envergonhada ou culpada. No entanto, embora seja um grande desafio, trocar a punição pelo interesse genuíno em compreender o que aquele pequeno indivíduo sente e pelo que é movido, pode ser bem mais eficiente e capaz de gerar uma mudança sustentável.
É sensato enfatizar, que algumas circunstâncias exigem repreensão imediata pelo bem-estar e segurança da própria criança, no entanto, só a repreensão não ajuda a mudar um padrão de comportamento instalado. A compreensão através da observação e do diálogo, promove um ambiente de seguro para que a criança possa falar sobre como se sente, seja de forma lúdica ou até mesmo sem usar as palavras. Por parte dos pais, é necessário paciência e um interesse genuíno em se aproximar e conhecer mais a fundo seus filhos. Já por parte das crianças, não há relação humana que resista a um ambiente seguro, afetivo e confortável para se expressar. Como todo processo, a transformação é gradual, em pequenos passos e muitas vezes lenta. Porém, mais importante do que resultar em uma criança “facinha” de lidar, é se conectar com a verdadeira essência dos filhos e saborear a vitória que vem das pequenas mudanças positivas, mas que ganham sentido e significado para serem sustentadas por toda a vida e vão sendo generalizadas para todos os contextos.
Caso precise de ajuda para compreender e auxiliar o seu filho a lidar com as emoções difíceis de expressar, busque ajuda profissional.