Quem faz ou já fez psicoterapia, sabe como funciona o clássico processo de tomada de consciência sobre si, sobre suas questões e todo manejo necessário (dentro daquilo que é de sua responsabilidade e alcance) para o atingimento dos objetivos desejados.
Todo este processo acontece em um ritmo e forma muito particular para cada pessoa, pois é como se fosse uma música composta por melodia e letra, numa combinação e frequência desenhada construída pelo próprio cliente, com o auxílio do terapeuta. Ao tocar da música, muita história é ressignificada assim como muitas emoções tornam-se afloradas. O processo de despertar e ser autor de sua própria trilha sonora, traz sentido, cura e revela um mar de novas possibilidades para aquele que experiencia.
Não se trata de um processo fácil e tão pouco composto só de alegrias, mas com certeza é um caminho necessário e recompensador na elaboração e superação de nossos conflitos. E embora possa soar romântico, este trajeto de se descobrir-se e transformar-se, na psicoterapia acontece por detrás de muito conhecimento técnico e científico, traduzido e aplicado por um profissional, o qual ao mesmo tempo em que acolhe e escuta, também planeja intervenções técnicas por meio de propostas e até mesmo alguns combinados (sempre considerando e respeitando o momento, o repertório prévio e disposição de cada um).
É bastante comum, inclusive, que motivados e engajados com sua melhora, em sessão os clientes possam acordar alguns cuidados, comportamentos e combinados, mas ao saírem da consulta e lidarem com a realidade cotidiana, muitas vezes acabem não cumprindo, deixando de lado e/ou até mesmo voltando atrás das decisões construtivas que haviam tomado. Às vezes, o processo de autoconhecimento, autonomia e mudança parece declinar, enquanto a expectativa e a autocobrança do próprio cliente por não ter cumprido um combinado ou se comportado de forma coerente com aquilo que ele deseja e acredita, pode se tornar um fardo pesado e amargo para se carregar, rodeado por culpa e autorrecriminação.
Portanto, é muito importante lembrar que o processo de psicoterapia não é algo linear e contínuo… pois mesmo com o apoio do terapeuta, o cliente certamente passará por altos e baixos em sua jornada, onde mais importante do que sempre acertar e transcender, é ser paciente consigo, adquirir repertório para lidar com as falhas, fraquezas e dificuldades, as quais são inerentes a qualquer processo. Especialmente em um contexto de pandemia, onde questões sociais, culturais, políticas e profissionais já tendem a não contribuir com a nossa saúde mental, é extremamente importante ser gentil e compreensivo consigo mesmo.
Por isso, se durante o processo você declinar, lembre-se que:
Combinado não sai caro, mas autocompaixão e paciência consigo mesmo, sai mais barato ainda…vale a pena tentar.