Embora essa pergunta possa parecer simples, para muitas pessoas ela ainda é um enigma, um tabu a ser quebrado e até mesmo uma questão central para saber se devem procurar ou não o serviço de psicoterapia.
Um dos fatores que provavelmente contribui com essa dúvida sobre para quem é o serviço de psicoterapia, está relacionado com o percurso histórico que a saúde mental traçou e ainda traça no mundo. Isso porque, a história da saúde mental percorreu uma trajetória que transitou entre a filosofia, a medicina, o campo científico, questões sociais e também políticas (dentre outras esferas), e sendo assim, foi sofrendo mudanças e aprimoramentos, tal como toda área de conhecimento. No entanto, é inegável que especialmente durante o começo de sua fundação, a psicologia esteve altamente ligada ao campo da medicina, o que coloca o sujeito que precisa de ajuda psicológica como um “paciente” ou até mesmo alguém “doente” da “mente” que precisava se tratar.
Falando o português ainda mais claramente, a psicologia assim como a psiquiatria, eram compreendias como especialidades para “loucos”, para pessoas que não conseguiam conviver em sociedade e eram deixadas às margens. Um outro fenômeno que contribui com a construção de uma imagem excludente dos tratamentos para a saúde mental, foram os manicômios fundados no Brasil por volta do fim do século XIX, altamente influenciados pela psiquiatria francesa. Nestes manicômios, a prática médica compreendia os sujeitos considerados loucos, como seres incapazes e improdutivos para a sociedade. Desta forma, os internados ficavam isolados da sociedade até o final de suas vidas e eram submetidos à tratamentos dolorosos e desumanos.
Após uma série de movimentações sociais e políticas em prol do fim dos manicômios, em 1989 com a Luta Antimanicomial altamente apoiada pela psicologia, o deputado federal Paulo Delgado, propôs um projeto de lei que previa a extinção gradual e progressiva dos manicômios, afim de serem substituídos por outros recursos assistenciais. Embora esta realidade tenha passado por muitas transformações, ainda hoje na sociedade contemporânea, o termo loucura ficou enraizado no senso comum e altamente relacionado como oposto de saúde mental. No entanto, a internalização deste termo com seu antigo significado, traz sérios prejuízos para toda a população, pois nos afasta de uma compreensão abrangente e integrada do ser-humano, como um ser vivo de direitos e deveres, com direito inclusive a ser respeitado e ter acesso à saúde com dignidade.
Além disso, as práticas psicológicas atuais compreendem o ser humanos de forma subjetiva, complexa e completa, abrangendo sua história vida, sua realidade social, seus fatores biológicos e genéticos, incluindo suas crenças, valores, objetivos e espiritualidade. Desta forma, a psicologia visa promover um espaço seguro e saudável para a expressão do ser e que objetiva acima de tudo, proporcionar o autoconhecimento, a autonomia e qualidade de vida para o sujeito em processo psicoterapia, sem ter como base uma visão de “normalidade”, mas sim de subjetividade e autenticidade.
Desta forma, o processo psicoterapêutico foi ganhando novos ares e significados, se apresentando hoje como uma ciência consolidada, com validade comprovada e um amplo leque de possibilidades de intervenções terapêuticas, que permitem auxiliar o ser humano em toda a sua trajetória. Portanto, considerando o objetivo da psicologia, quem é que não quer conhecer mais profundamente a si mesmo? Quem não quer ter autonomia para lidar com seus conflitos e viver uma vida com qualidade?
Respondendo ao título lá no início deste texto, seguramente nós dizemos: Psicoterapia é para quem quer compreender suas emoções, é para quem prioriza o bem-estar e a saúde mental, psicoterapia é para todos!
Precisamos quebrar antigos paradigmas e normalizar o cuidado com a nossa saúde mental, de forma humana e digna, para o bem todos. ♥